sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A PEDRA FILOSOFAL E A UNIÃO SEXUAL


Em épocas imemoriais, ainda na infância da humanidade, já se falava na importância dos elementos da natureza em relação ao homem, como forma de conjunção de saberes milenares que seriam amplamente transmitidos, inicialmente, através da tradição oral.

Ainda no Egito antigo, os ensinamentos de uma figura mítica, e da qual pouquíssimo se sabe até hoje - mas de profundos e extensos conhecimentos acerca de praticamente todas as coisas - despertariam a atenção de seguidores e estudiosos por numerosos séculos adiante, atravessando a Era Cristã e chegando à Idade Medieval, onde disseminou-se o saber de princípios ocultos e telúricos na forma de um ramo do conhecimento que passaria a ser chamado de Alquimia - para muitos, a fundamentação de postulados precursores das ciências químicas.

Porém, representa bem mais do que isso.
Escola alquímica retratada em um painel do séc. XIII

Muitos não imaginam, mas no adentrar dos domínios da Alquimia, há uma sabedoria tão evoluída, e tão fina, que nos faz crer que praticamente tudo que o homem tem pensado se tratar de evolução dos seus conhecimentos, em várias áreas contemporâneas (biologia, psicologia, filosofia, astronomia, a própria química), nada mais são do que assopros e meras tentativas equívocas que não conseguem alcançar uma consciência muito maior, e deveras superior, dos mistérios do Criador e desígnios dos seres, e que remonta a longínquas épocas!

Prezados e prezadas, estamos tão somente falando de alguém chamado Hermes Trismegisto, que naqueles tempos remotos, embasou os vastos fundamentos de tudo que é Verdade, e de tudo que segue como a mais perfeita Lei.

Tido como um iluminado, ou mesmo um semi-deus, pelos antigos egípcios, através de um postulado denominado Tábua de Esmeralda (Tabula Smaradigna), citada por povos de épocas imemoriais, em papiros e escritos diversos ao longo dos séculos por pesquisadores, Hermes firmou as bases do conhecimento que daria origem à Alquimia, as Leis Herméticas, que através de seus 7 princípios básicos, estabeleceria todos os parâmetros para a explicação dos processos de transmutação dos elementos, sendo que, pelo termo "hermético", conhecemos um significado de representação de tudo aquilo que é fechado, lacrado, trancado - não disponível para o mundo e as pessoas em geral.

Ou seja, a filosofia hermética é aquela que não pode ser ensinada a qualquer um. 

Não existe nas grandes cátedras ou universidades da vida, não há nela mestres ou doutores acadêmicos, pessoas que acumulam títulos, a disseminando publicamente em palestras e conferências por aí.

É hermética, pois segue um de seus princípios fundamentais, que é: "os lábios da sabedoria estão fechados, exceto aos ouvidos do entendimento". Eis uma das máximas do hermetismo.

Assim sendo, se detém na simplicidade de sua proposta. Aquele que quer o conhecimento, deverá buscá-lo. Não adianta ficar falando um monte de coisas para ouvidos que não estão interessados, ou que não tem o devido preparo e predisposição para buscar o significado, e entender.

É, por assim dizer, uma ciência oculta.

Seus mestres não esbanjam conhecimento aos sete ventos, evitando assim o perigo traiçoeiro da soberba e da vaidade, os apelos fáceis do se gabar por simplesmente memorizar e sair repetindo frases e textos de livros. 

Há que se buscar! Se aprofundar e decantar, decantar, e decantar os princípios e as Verdades de tudo - tal qual o legítimo alquimista, que através dos sucessivos cozimentos, aquecimentos e resfriamentos, apura as substâncias do magnum opus, a "Grande Obra", a Vida!

Seus iniciados e estudiosos se resguardam, aceitando humildemente as Verdades insculpidas nas Leis, e perseverando em uma jornada mística e silenciosa, observando o fluxo em que o Universo - parte do TODO - se movimenta incansavelmente, direcionando o destino da humanidade e atendendo aos princípios naturais.

Como é assunto prolífico e complexo, para mais de quilômetros e quilômetros de texto, centremos nosso foco aqui, tão somente, em algo já vulgarizado e debatido pela sociedade ignóbil e grande mídia em geral, que é a discussão em torno dos elementos estudados pela tradicional ciência alquímica - e dentre eles, graças às alegorias da literatura moderna, há um que ficou notoriamente ligado à imagem de um famoso personagem infanto-juvenil, o bruxinho dos livros de J. K. Rowling, Harry Potter.

Sabemos que, para a grande Alquimia, existem 4 elementos básicos e essenciais, que são forças de transformação da Natureza sobre todas as coisas e seres - inclusive, o homem - e o entendimento pleno de seus significados e ações é constituído da forma como tudo se transforma e se movimenta (Princípio do Movimento, presente nas Leis Herméticas). São os quatro elementos: arfogoterra e água.
Esta representação básica de um sistema alquímico busca exemplificar a conjunção dos 3 compostos essenciais (sal, mercúrio e enxofre) que, sob a ação dos 4 elementos conhecidos (terra, água, ar e fogo) se convertem em substâncias fixas ou voláteis, de acordo com o temperamento, de forma a gerar o sal e salitre celestiais e condutores da matéria

Estes são material palpável, qualquer um de nós, reles seres humanos, tem conhecimento e contato com tais elementos básicos da natureza e seus princípios e estados, em suas mais variadas formas. Pelas técnicas já desenvolvidas e difundidas pela ciência comum, podemos facilmente ter acesso a eles, e manipulá-los ao nosso bel prazer.

São mundanos, comuns, afinal.

Mas há além deles um quinto elemento, e este é aquele que era alvo da busca dos alquimistas, uma forma de energia às vezes visível, às vezes invisível, e tão poderosa, que a poucos agraciados sobre este plano terrestre foi concedido o dom de poder obtê-la ou manipulá-la.

Para os antigos egípcios, era conhecida como Azoth. Para uma parte dos gregos, persas, fenícios, e outros povos que tinham contato com os estudos, também passaria a ser chamada pelo nome Kundalini. E ainda passaria por outras denominações, ao longo dos tempos, representando a força e o poder de uma sabedoria oculta e maravilhosa, capaz de operar sobre todos os outros elementos, e todas as coisas e pessoas desse mundo ou do Universo.

Esse quinto elemento, convencionamos chamar de pedra filosofal (no latim, lapis philosoforum).

Só para se ter uma ideia de seu poder, citaremos um dos únicos seres sobre este mundo que o utilizou com inteligência suprema e sagacidade: Jesus Cristo. Possuía o dom da cura, da sabedoria, e da imortalidade.

A pedra filosofal é, pois, o poder sobre todas as coisas e pessoas. A força que move o Universo e está entre nós, dentro de nós, e através de nós, invisivelmente onipresente e ao alcance de todos, mas exigente de um preparo magnífico e extremo para que seja alcançada, visualizada, vivida. 

Seu possuidor deve ser de uma nobreza tal, para merecer tê-la.

A pedra filosofal é um elemento de particularidade tão distinta, que é tido pelos alquimistas como o de maior volatilidade, sublimação, condensação e solidificação de todas as substâncias da natureza, conseguindo transitar entre os estados da matéria com impressionante velocidade e graça - em verdade, não é matéria simplesmente dita, como estamos acostumados a dizer, mas matéria etérea, energia autêntica. Pode se materializar em uma espécie de sólido avermelhado, que num só instante pode sublimar e desaparecer aos olhos mortais, e que indica o quarto estágio do processo alquímico do conhecimento, quando alcançamos a iluminação plena: o rubedo!
Representação artística de como seria a pedra filosofal

E aqui cabe uma observação sobre as motivações que os alquimistas possuíam em seus estudos: o processo de transmutação do chumbo (e outros metais não nobres) em ouro, a busca pela juventude eterna, a criação de homúnculos, e a confecção e manipulação da pedra filosofal.

Na lendária busca filosófica do alquimista, apenas através da união misteriosa entre os dois opostos da Natureza, o masculino e o feminino, é que poderia haver o desenvolvimento da Grande Obra, para que o quinto elemento fosse alcançado. (Princípio do Gênero: "O gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino. O gênero se manifesta em todos os planos").

Se observamos bem, um dos grandes símbolos herméticos é o triângulo - visto que o número 3 é de grande simbolismo esotérico para o conhecimento hermetista, 3 são os componentes utilizados nos processos alquímicos, constituindo a unidade na trindade (mercúrio, enxofre e sal), e 3 são também as entidades perfeitas citadas nos tratados por Trismegisto (nome também derivado de "aquele que detém os 3 conhecimentos superiores"), e essas entidades são o Pai (Sol), a Mãe (Lua), e o Deus único e agregador, na forma do TODO - o Senhor, enfim, de todas as coisas do Universo.

Também no cerne das secretas analogias gnósticas, que vem sendo estudadas pelos grandes mestres há muitos séculos, está incrustada a ideia do homem e da mulher como portadores deste grande símbolo de energia que é o triângulo - sobretudo energia sexual

O homem e a mulher são seres perfeitamente feitos um para o outro, para produzir e conduzir a Grande Obra.

Se observarmos a seguir, a energia sexual se concentra nas regiões erógenas do corpo, os chakras básicos do ser humano, sendo representados pelo triângulo fálico no homem (formado pelo alinhamento do pênis ereto, em relação aos testículos polarizados), e o triângulo vaginal na mulher (formado num alinhamento dos ovários polarizados em relação à vagina receptora) - e exatamente devido a essa condescendência entre ambos os triângulos, é que eles se encontram numa justaposição atrativamente polarizada no fenômeno fundamental da penetração, concretizando a magia milenar da União Sexual Perfeita.



Ainda em consonância com os saberes gnósticos: observemos que, quando da união dos sexos, o triângulo erógeno polarizado do homem entrando no triângulo erógeno polarizado da mulher, se forma um dos símbolos básicos da prosperidade no conhecimento milenar, a famosa Estrela de Davi, a estrela de 5 pontas - símbolo alquímico sagrado, por natureza! 



Um dos maiores mestres de todos os tempos, Nicolau Flamel, que viveu na França entre os séculos XIII e XIV, e tido como um dos únicos a conseguir chegar à composição da pedra filosofal, estabeleceu os êxitos de sua longa empreitada através das vivências e amadurecimento de seu relacionamento com a esposa, Perenelle.

Em seus manuscritos, Flamel narra detalhadamente a presença e ajuda de Perenelle na experiência de produzir o elixir da juventude, utilizando o quinto elemento: "Todavia trabalhei uns três anos, até que finalmente encontrei o elixir, que imediatamente se reconhece por seu forte odor. Primeiro o projetei sobre uma libra e meia de mercúrio e obtive desse modo igual quantidade de prata; isso ocorreu em minha casa, estando presente unicamente minha esposa Perenelle; mais tarde, atendo-me escrupulosamente a cada palavra de meu livro, projetei a pedra vermelha sobre uma quantidade quase igual de mercúrio na mesma casa e de novo estava presente minha esposa Perenelle. Realizei a obra por três vezes com a ajuda de Perenelle, pois como havia-me ajudado no trabalho, o entendia exatamente como eu".

Conta-se que Flamel e Perenelle manipularam a pedra, e obtiveram com sucesso o Elixir da Longa Vida, desfrutando de uma descomunal saúde, juventude e condições físicas, que os levaram a ter conseguido viver por mais de mil anos, viajando e vivendo em segredo com sociedades alquímicas de todo o mundo.

A peregrinação do homem em busca de sua companheira ideal, a parceira perfeita, que irá ajudá-lo a compreender e absorver os conhecimentos dos 4 estágios alquímicos, constitui um dos mais envolventes e esplendorosos enigmas da jornada existencial rumo ao conhecimento.

Jornada essa que, todo grande mestre bem sabe, tem muito mais valores e significados em seu percurso, do que propriamente em sua chegada.


Trecho do Caminho de São Tiago de Compostela, no norte da Espanha: trilha percorrida por alquimistas e buscadores do saber, de todo o mundo, para a enlevação espiritual e o desapego das coisas deste mundo, em função do máximo conhecimento da VERDADE!