quinta-feira, 29 de novembro de 2018

ASAS DE PÁSSARO MÃE


(D. Alves - 28/11/2018)

Hoje me arrasto até a tua porta
Sombra do que fui sob tuas asas de carinho
O cansaço imprimiu cicatrizes do tempo em meu rosto
Deixei pedaços de mim caídos pelo caminho

Mãe, eu matei promessas que eu fiz a mim mesmo
Eu fui o criminoso mais vil e cruel da minha própria alma
E agora eu retorno pedindo apenas um pouco de aconchego
Peço encarecidamente os teus olhares de perdão e calma
(Ainda que sejam olhares mesclados com dor
Por ver filho em sofrimento de clamor)

Mãe, eu cruzei as esquinas da perdição
Devasso e ingênuo, me perdi na gula da paixão
Dei valor ao que não valia, e ao que valia disse não
Dancei incauto mediante juras de maldição

Mas mãe, sei que diante do teu amor
Nos sentimos mais perto da misericórdia divina
Estou carregando os pesados grilhões da existência
Prisioneiro de uma ilusão que carrego em segredo de pura essência

Nas sombras do meu espírito aprendi a ocultar sentimentos
Com Deus e contigo, aprendi a perdoar e a amar
Com as pessoas lá fora, aprendi a servir e a apanhar
E agora, me recolho em ti para voltar a ser criança e sonhar

Mãe, você me ensinou que somos seres em aperfeiçoamento
Procurando pagar dívidas de compromissos passados
Por favor, volta a me ensinar como desembarcamos desse trem veloz
Sem descer correndo e tropeçando em tantos caminhos errados

Eu caí em tantas armadilhas
Aprendi a me levantar, soprar a poeira das feridas, e sair andando
Mas não consegui aprender a voltar a ser quem eu era antes
E assim esperanças bonitas foram para trás ficando...

Mãe, me leve novamente para aqueles montes verdejantes onde nasci
Me dê de beber daquela fonte dos dias de nossas jovens alegrias
Me levanta, me revigora e me torna livre de toda doença
Banhado serei forte e belo nas águas de minha Valença

Muitos caminhos estranhos eu percorri
Peregrino ambicioso de destinos errantes
Certos exageros me fizeram magoar e ser magoado
Mas hoje me sinto mais sábio do que antes

Mãe, nessa dura escola da vida
Muitas vezes, não temos chance de fazer recuperação
Então peço retorno sob maternas asas de proteção
Para trazer um pouco de alento ao meu coração

Mãe, ao ser judiado por todos sinto que estou os guiando
Pois pelo meu sofrimento quem é bom se compadece
E se liberta pelo doce amor da compaixão
Mãe, é essa do Cristo a mais bela lição?

Mãe...
Sob tuas asas de frondosa devoção
Preciso dormir
Dormir só um pouquinho
Deixa eu me esquecer desse mundo tão estranho lá fora
Querida mãe.

sábado, 17 de novembro de 2018

A GRANDE LAVAGEM CEREBRAL


Filho, você vê aquelas nuvens escuras no céu?
Você sentiu o cataclisma da grande rajada de um raio devastador?
Você sabia que nós estávamos cobertos pela grande cegueira de sangue?
Guiados por porcos em um chiqueiro de terror?

Filho, você sente agora um ar mais puro de esperanças e felicidade?
Com as flores que começam a recender suas fragrâncias novamente?
Podes ver as pradarias mais vastas e verdejantes com pássaros a pousar?
Sem o medo de serem tragados pelos ceifadores de mentes?

Filho, eu idealizei um mundo melhor para nós
Mas eu fui enganado, espancado e acorrentado nos porões da lama ludibriosa
Agora me liberto para acreditar que há vida fora da ilusão
Acredito em nós, não neles, e na transmutação...

Filho, você se lembra de mim levantando bandeiras de mentiras?
Eles me sufocaram nelas até que quase desfalecesse num reles enforcamento
Pois eu as rasguei e peço ao Pai que as enbolem nas gargantas deles
Igual ao de muitos que também acreditaram sei que é o meu lamento

Filho, chegou ao fim a grande lavagem cerebral
Estamos livres para pensar, para acreditar e voltar a amar
Esta é uma terra bela e frondosa, mundo de oportunidades
Basta acreditarmos em nós mesmos e trabalhar.

(D. Alves - 17.11.2018)