sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O REI DO ROCK - E DAS ARMAS


Não é novidade para ninguém que armas de fogo são parte inseparável da cultura norte-americana.

Assim como Elvis Presley - o mítico "Rei do Rock" - também está intrinsecamente ligado aos simbolismos do país de Tio Sam.

E os dois - Elvis e armas - eram inevitavelmente interligados. Ainda mais por isso convir a um garoto pobre e caipira do Mississippi, vindo de família paupérrima, com o dom magistral de possuir uma voz de ouro, muito versátil para o mercado fonográfico jovem de sua época, mas totalmente despreparado para os percalços da absurda fama e fortuna que ele viria a ter.

Elvis é um grandes paradigmas da música pop, o Midas que personificou todo o calvário de alguém que sai de baixo e chega ao topo, eternizando um estilo e uma forma própria de cantar, que fizeram dele uma lenda que já vendeu muito mais discos morto, do que vivo!

O espólio do rei é caríssimo, ele continua sendo um dos artistas mais lucrativos da história.

Mesmo na era digital, em que o grande público perdeu o costume de "comprar disco" (adeus vinil, adeus CD!), e tudo é praticamente através de serviços de vídeo e streaming pela internet (Spotify, YouTube, Deezer), Elvis vai bem, obrigado, e continua sendo um excelente vendedor de MP3. Só para se ter uma ideia, a postagem do espetáculo de TV original de 1968, Elvis Comeback Special, onde ele cantou grandes sucessos como "If I Can Dream" e "Memories", já teve mais de 1 milhão e seiscentas mil visualizações em apenas 5 meses.

A se julgar por um artista falecido no longínquo agosto de 1977, nada mal.
 
Além das sempre presentes teorias conspiratórias em torno do "Elvis não morreu", de que teria tudo sido uma farsa bolada pelo rei para escapar da fama e viver tranquilo e anônimo em algum lugar, há também uma aura praticamente santificada em volta da imagem do ídolo, por seus fãs: alguns gringos loucos volta e meia cogitam abrir uma igreja em seu nome, a Presleyterian Church of Elvis the Divine (ou "Igreja Presleyteriana de Elvis, o Divino", kkkkk)... o que, obviamente, leva muita gente com a cabeça mais no lugar a querer rir de um disparate desses.

Coisa de fã. Alias, fanático - que sempre pensa que seus ídolos podem ser imagens da perfeição na Terra, e seres humanos fora do comum e acima da média, de tão bons.

Mas, indo na contramão dessa ideia, uma olhada mais pormenorizada nas inúmeras biografias do rei nos mostram que ele não era, ao contrário do que muitos pensam, tão gente fina assim (e sem trocadilhos com a gritante obesidade de seus últimos meses vivo, por favor!).
Elvis e suas queridinhas: não as fãs, mas as armas!

Elvis, a partir de determinado momento de sua carreira, era um cara angustiado, depressivo e obcecado, com ataques de superioridade resultantes de um processo de autodefesa gerado por um ego terrivelmente abalado pela sua baixa auto estima sofrida na infância, e negativamente estimulado por um enorme cordão de puxa-sacos que passaram a viver como sanguessugas de seu sucesso: o empresário Tom Parker e os assessores de Elvis, conhecidos como "Máfia de Memphis".

Isso fez dele um cara envolto em vários comportamentos agressivos ao longo de sua vida.

A amargura temperada com egolatria excessiva, e confeitada por muitos dólares, provocaram alguns lances bizarros na história do rei: além de ter ficado vidrado em artes marciais a certa altura da sua vida, descendo o sopapo no primeiro coitado que estivesse pela frente, Elvis também desenvolveu um gosto maníaco por armas. E por andar sempre armado.

Todos sabem que isso, aliado ao fato de se tornar um contumaz usuário de drogas de farmácia - estimulantes e tranquilizantes - que fazem do humor da pessoa uma verdadeira montanha russa (e isso era o que rolava com Elvis), pode levar a episódios perigosíssimos.


No livro Elvis - What Happened? ("Elvis - O que Aconteceu?"), de Steve Dunleavy, uma das primeiras biografias lançadas sobre o cantor, é relatada uma ocasião em que Elvis ficou irritado com o desdém de dois funcionários de um posto de gasolina, onde ele e alguns dos seus comparsas pararam a limusine para abastecer.

Era 1965, e o rei estava em um período mais em baixa de sua carreira, sem conseguir lançar nenhum grande sucesso, e preso a uma série de contratos intermináveis com estúdios de cinema para fazer um filme após o outro. Acontece que eram filmes chatos, com roteiros chatos, comediazinhas musicais que atiravam Elvis em uma rotina estressante, e acabavam minando o ânimo e a criatividade do cantor para voltar a lançar hits. Tudo culpa do seu empresário mala, Coronel Tom Parker. Graças a ele, Elvis se sentia sendo morto aos poucos por Hollywood.
Elvis, durante determinado momento de sua carreira, ficou preso a contratos para filmes maçantes, no estilo "seresteiro havaiano romântico da sessão da tarde"

No tal posto de gasolina, então, Elvis vê os dois frentistas brincando de boxear e se lixando para ele, dando pouca ou nenhuma atenção, quando resolve pregar um sermão sobre "paz e amor" a eles. Ele vinha carregando constantemente livros sobre filosofia oriental e budista em suas viagens, como uma forma de amenizar o tédio e as tensões dos horários apertados das filmagens, e andava simplesmente fascinado pelas palavras de gurus como Paramahansa Yogananda. 

Então, o rei tentou chamar a atenção dos caras do posto com seu discurso. Mas os dois jovens rapazes pareciam fazer de conta que nem estavam diante daquela lenda - logo ele, o "rei do rock"! 

Apenas aquela indiferença já fora o suficiente para deixar Elvis meio puto. O rei aos poucos percebia que estava ficando velho, e para as novas gerações a sua relevância parecia não ser mais a mesma.

Mas quando ele entrou dentro do carro e saiu, e enxergou pelo espelho retrovisor os frentistas rindo um para o outro, fazendo gozação dele, e um deles ainda levantando o "dedinho" na direção do carro do rei, aí a coisa azedou.

Elvis estava dirigindo. Num instante só, deu um cavalo de pau, o pneu cantou bonito, e voltou com tudo pro posto de gasolina. 

Ele saiu tão rápido da limusine que, num pulo só, derrubou um dos frentistas com uma voadora certeira. No outro, aplicou um potente golpe de caratê que jogou o fulano no chão, e rapidamente sacou um Python 38 carregada no talo. Apontou na direção do último cara que derrubara e já ia atirar quando, num átimo de segundo, Hamburger James, um dos assessores da Máfia de Memphis, veio correndo e conseguiu tomar o revólver das mãos do rei.

- Elvis, pelo amor de Deus, cara! Não!!! Imagina se isso vai parar na mídia, a sujeira que vai ser... Você é o rei do rock, cara! O rei! Não um assassino. Pensa na tua família, no quanto isso vai feder... 

A consciência pesou, Elvis deu as costas e se dirigiu para o carro, e resmungou para seus assessores rapidamente pedirem desculpas aos frentistas, perguntarem se eles estavam bem, e dar uma "molhadinha" básica de alguns dólares neles, para esquecerem daquele ocorrido e tocarem normalmente suas vidas.

Outros episódios tristemente famosos na vida do rei, em sua ânsia para puxar o gatilho, dão conta de sua lendária mania de dar tiros em aparelhos de TV, ao exibirem programas dos quais ele não estava gostando.
TV vitimada por Elvis Presley em um dos seus ataques de fúria, ainda hoje em exposição em sua mansão hoje transformada em museu - Graceland, em Memphis

Um grogue e enfastiado Elvis Presley acertou televisores duas vezes, em 1972 e 1973, com sua Derringer automática de estimação - que, pelas suas pequenas dimensões, era fácil de portar e disparar - e isso ocorreu por conta de uma apresentação do cantor Mel Torme, que ele detestava, e outra por conta de fofocas a respeito de sua pessoa, no programa de Robert Goulet.

Consta que na primeira vez, aliás, o projétil atravessou o aparelho, e foi se alojar num dos cômodos da mansão Graceland onde estava a sua então esposa Priscilla Presley, quase a acertando também. Se não morreu de bala, por pouco não morreu de susto. Imagina o que aconteceu com o casamento dos dois, que já estava bem abalado, depois de uma situação como essa...

Também tem destaque nas biografias do rei o ocorrido após a sua ruidosa união com a bela modelo Linda Thompson - a primeira mulher com quem Elvis manteve um longo relacionamento, de 1972 a 1975, depois de se separar de Priscilla Presley.

Quando se conheceram, o rei a presenteou com um carro esportivo que era uma das sensações da época, o célebre DeTomaso Pantera - feito por encomenda para o mercado americano pela montadora italiana DeTomaso, tinha um robusto motor de Ford V8, 5 marchas e 265 cavalos, e competia com feras como Ferrari e Lamborghini.

Assim que o automóvel foi entregue em sua mansão Graceland, Elvis chamou Linda correndo para lhe entregar o seu presente - praticamente, uma declaração de noivado. 

Apesar (ou por causa) de toda a empolgação do momento, ao receber as chaves toda trêmula e embasbacada de emoção, a moça não conseguiu dar partida no carro. Ele afogava, e não ligava. Alguns dos malas da Máfia de Memphis, já antevendo o nervosismo do patrão, começaram a dar os pitacos esperados: "ah, deve ser a bateria, chefe", "vamos dar uma empurradinha, que pega!".

Elvis, já soltando fumaça pelas ventas, cata a chave das mãos de Linda:

- Que merda de bateria o que!!! Um carro novinho desses? Paguei uma fortuna por essa porcaria...

Aí a coisa desandou, porque o carro não pegava nem nas mãos do rei do rock.

A certa altura, então, Elvis perdeu a paciência, se levantou do carro e, instintivamente, sacou de uma Walther PPK modelo automática, outra de suas pistolas preferidas que ele sempre carregava.

Foram 3 disparos: um pegou na porta do motorista, e os outros dois no volante do carro, um de raspão e o outro em cheio.

- DeTomaso de merda! Desgraçado! Eu devia saber que esses carros italianos são só propaganda, é tudo uma bosta mesmo! Vem, Linda, vamos sair e dar uma agitada... depois eu dou um outro pra você...
Elvis saindo para um rolezinho no DeTomaso Pantera

Assim que a tempestade passou, poeira assentada, um dos assessores de Elvis se senta no carro que tinha ficado largado no pátio da mansão - e, após algumas tentativas, consegue dar partida nele. Eram pitorescas as histórias de carros importados da Itália que, por algum probleminha durante a viagem de traslado, mostravam depois pequenas falhas de mau contato na bateria. Nada que um pequeno ajuste não resolvesse...

Elvis deu um Cadillac conversível para Linda, e ainda ficou com o DeTomaso em sua garagem por algum tempo, utilizando o mesmo para passeios esporádicos, antes de vendê-lo para um colecionador particular, que até hoje o mantém exposto em um museu de Los Angeles. Mas, detalhe: o rei nunca mandou consertar ou remover as balas dos tiros que ele deu no carro, visto que isso não atrapalhou o seu funcionamento. Parecia, de alguma forma, ter fascínio pelo próprio temperamento explosivo e excêntrico que tanto o dominava, em certos momentos.

O DeTomaso Pantera amarelo de Elvis teve apenas a lataria da porta arrumada pelo seu novo dono. 

As marcas dos projéteis no volante ainda continuam lá, até hoje, fazendo parte da mitologia ensandecida do rei do rock... e das armas.

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